Meu Achismo:
Demorei um bocado para adquirir meu
exemplar de Paganus, por acreditar que ele fosse mais um livro sobre bruxas de
Literatura Fantástica, até que pintou uma ótima oportunidade de uma promoção
pelas mãos da própria autoras, Simone Marques, que aproveitei mais pela vontade
de conhecer o trabalho dela (que, até então, só conhecia alguns poucos contos).
Assim como ocorreu com Os Deuses do Mar, do qual apenas conhecia os 3 capítulos
que ilustrei, Paganus me surpreendeu muito! Acreditava, sim, que seria um bom
livro, bem escrito e trabalhado, mas não esperava pela história densa, profunda
e rica que é o livro, na realidade!
Paganus relata uma história
sobre “bruxas”, mas não essas bruxas fantasiosas com varinhas de condão. Fala
sobre o Povo da Terra e a Magia Natural que se extrai da comunhão com a
Natureza e da manipulação consciente de energias.
Aliás, Paganus NÃO É Literatura
Fantástica, com a graça de Deus e do Divino Espírito Santo, amém! Mas, sim, um
Romance de Época, quase um Histórico, e dos melhores que já li!
A história se inicia no século
17, com os gêmeos Diogo e Douglas Couto, idênticos na aparência, profundamente
diferentes no coração, e como tudo muda completamente com a morte prematura da
mãe. O pai, Mario Couto, um fraco que pensa ser forte, se entregou à escuridão
de seu próprio espírito quando perdeu a esposa, única capaz de mantê-lo à
superfície de suas trevas, perdendo-se completamente em seu rancor, resolvendo
descontar a sua raiva no mundo.
Passou a treinar arduamente os
filhos para a guerra e assumiu o comando da Vila dos Canetos, em Portugal, onde
se passa toda a trama, tornando-se um “Dom” e assumindo naquela região a caça
às bruxas da Igreja, levando dor, desgraça e destruição às pessoas simples do
campo, acusadas das coisas mais horríveis que elas próprias jamais ouviram
falar!
A revolta e a indignação são
dois sentimentos que te acompanham em quase toda a leitura do livro. Na
verdade, há poucos momentos de leveza e descontração, pois a história é
alicerçada sobre fatos verídicos e muito tristes (sobre como a Igreja Católica
e os perversos que a serviram, destroçaram vidas inteiras, populações inteiras,
em nome de uma fé que era apenas uma máscara para encobrir a mais cruel maldade
fomentada pelo ser humano). Se já é revoltante que um qualquer apareça e dê
pitacos em sua vida, imagine alguém chegar e destruir a tua casa, matar tua
gente, só porque você não reza pelo Deus dele! E esse episódio macabro,
doentio, que durou séculos, faz parte dos anais da Igreja. Ainda mais
revoltante é ver que tal demência perdure ainda nos dias de hoje, embora não se
acenda mais piras e queime pessoas (literalmente), mas meter-se com a fé dos
outros, dizendo que a sua é a certa e que os outros são os errados, que a sua é
de Deus e o resto é do capeta, é tão canalha e hediondo quanto foi a
Inquisição.
Voltando ao livro...
Os gêmeos se tornaram homens,
ainda tão iguais na aparência, ainda completamente diferentes no cerne. E são
obrigados pelo pai a servi-lo em suas caçadas às bruxas, matando inocentes e
destruindo vilas. Mas em uma dessas vilas, a vida destes três homens sofre
grande mudança, em especial a Diogo, o que era o bondoso e o justo da família,
um “cristão com coração de pagão”.
Gleide é a que pode ser
verdadeiramente chamada de sacerdotisa da Grande Mãe. Mulher de muita fibra,
mas rígida como uma rocha que, apesar de não esmorecer, também machuca. É
conhecedora das ervas e possui uma mediunidade muito forte. Na história, pode
ser personificada com a face anciã da Deusa, Morrigan. Gostei mais dela no
início, mas depois ela me pareceu mais uma velha safada. Ter a sexualidade
livre é uma coisa, comportar-se como um animal, é outra. Achei nojenta essa
coisa dela de usar o sexo para controlar os homens. É engraçado como uma mulher
que quer se mostrar tão superior aos homens se comporte como eles, enfim.
Felizmente isso não é uma constante no livro e é mais uma descrição do
comportamento da personagem do que propriamente fatos determinantes. Ainda
assim é uma personagem que dá vontade de socar às vezes!
Adele é a única filha de Gleide
e surge na história como uma moça de 17 anos às vésperas do parto da filha,
Danieli. Ela personifica a face mãe da Deus, Dana. É amorosa, romântica e muito
compreensiva, apesar da mãe que tem. Diogo se encanta pela beleza da moça e a
construção do relacionamento deles é linda! Aliás, as melhores cenas do livro
está, em maior parte, na fuga de Adele, Gleide e Diogo, depois que a família do
rapaz destruiu a aldeia das mulheres e Douglas quase matou o irmão queimado ao
incendiar a casa delas.
Diogo é um dos gêmeos, que
cresceu e se tornou um homem belo mas justo. Dotado de verdadeira honra e
bondade, porém Simone Marques nos livra dos pieguismos do “otarismo” que
geralmente esse tipo de personagem sofre. Ele é bom e justo, mas é forte e
firme e se impõe quando acredita ser necessário, mesmo que tenha que tomar
atitudes drásticas. A cena de luta dele com o irmão e o último diálogo que tem
com o pai em seu leito de morte são antológicos! É um ótimo personagem, um bom
modelo para ser seguido na vida real.
E Adele e Diogo formam um casal
alquímico, do tipo sonho de consumo para qualquer uma de nós!
Danieli é o bebê de Adele, que
nasce na primeira parte do livro. O carinho com que Diogo trata a menina chega
a ser comovente. Há uma cena lindíssima em que Diogo ajuda Adele, exausta e
meio adoentada, a amamentar a criança!
Na segunda parte, Danieli já é
uma moça, e Adele, Diogo e Gleide são colocados numa posição de menor
importância na trama. A garota representa a face donzela da Deusa, Brigith. Por
ser bonita demais, acaba caindo na ambição luxuriosa de um figurão, dono de
vila, e tem que fugir da aldeia em que vivia pacificamente com os pais, a avó e
o irmãozinho mais novo, Angus (Mateus). A aldeia paga muito caro por essa fuga e
essa é só das primeiras desgraças que estarão no encalço da jovem.
Para se ver livre da ambição do
figurão, Danieli acaba noiva de Guilherme, um rapazinho insignificante e
apagado. Mas a Simone Marques é muito boa com suas leitoras, então é com grande
alívio que se descobre que o ajudante de ferreiro é apenas um elo de conexão.
O livro termina com promessas
de continuação. Danieli parte de Portugal para o Brasil, com seu irmãozinho
Mateus, com o cara certo Antônio (irmão de Guilherme) e com o bebê em seu ventre,
que será a sua maior missão perante a Grande Mãe.
Achismo Final:
O livro é longo e complexo.
Tive a impressão de que há 2 histórias num só livro, o que acabou
sobrecarregando muito com informações, deixando difícil a tarefa de resenhar.
No meu humilde achismo, preferia transformar em dois livros distintos, formando
uma série.
É um Romance de Época, é uma
Ficção que retrata com riquezas de detalhes uma época conturbada de fins de
Idade Média, já entrando no Iluminismo, mostrando um Portugal que chegava ao
final de sua glória e a descoberta e povoamento de novas terras, em especial o
Brasil, que se tornará o coração do mundo, onde Danieli tem a sua missão a
cumprir.
6 comentários:
Oiiii, um romance de época, quase um histórico??? Tá brincando, eu quero este livro, eu preciso deste livro. Já li Agridoce da mesma autora e gostei demais da escrita da Simone, tenho certeza de que tudo o que ela escreve é sempre muito bom.
Vanessa
http://balaiodelivros.blogspot.com.br/
Esse período da "Santa" Inquisição foi, de fato, nojento. Me identifico bastante com os autores que empenham-se em refrescar a memória dos leitores para fatos lamentáveis como esse.
Pat, não quero me tornar repetitivo, mas tuas resenhas são ótimas.
Oi, Vanessa!
Obrigada pela visita, comentário e por se tornar uma seguidora \o/
O romance é quase um histórico, pois não se foca exatamente num fato histórico documentado.
Te falo de coração: vc não vai se arrepender nem um pouco de adquirir esse livro da Simone. É muito bom.
O Agridoce ainda não li. Não sou fã de vampiros, mas como a Simone tem quebrado alguns paradigmas meus, acho que vou tentar esse tbm ^^
Bjos!
Olá, Cesar!
É bom te ver por aqui de novo \o/
Depois que li esse livro, entendi o porque da minha aversão à Igreja, desde criança - tanto que, pequenina, me recusava categoricamente em fazer a tal da primeira comunhão - que não fiz e ninguém conseguiu me convencer a isso.
Esse período negro apenas nos atrasou, em todos os sentidos, inclusive o moral!
Bjos!
Pat!
Não achei sua opinião 'achismo' não. Sua resenha está bem feita e a sensação que os livros da Simone nos dá e que a cada novo será melhor. Sou totalmente fã dela e admiro a forma como ela consegue concatenar as personagens e histórias.
Parabéns pela resenha.
Vim desejar alegria, felicidade e muito amor no coração!! Um mes carregadinho de boas energias e sucesso!
“Crer, é tornar possível o impossível.”
Carinho não tem preço, doe-se.
Blogueiras Unidas 1275!
Luz e paz!
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com/
Sua resenha me deixou curiosa por conhecer todo o livro!
Parabéns a Simone pela obra!
http://imaginemia.blogspot.com.br/
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