terça-feira, 27 de março de 2012

Entrevista - Albarus Andreos

O entrevistado da semana é ALBARUS ANDREOS, autor da trilogia A Fome de Íbus.

O Escritor:

Quando começou a escrever?
Ao escrever um conto para um colega de faculdade que jogava RPG. Fiquei tão encantado com o que tinha conseguido que não parei mais. Este conto, aliás, serviu de inspiração para minha primeira obra: A Fome de Íbus (cujo primeiro volume, Livro do Dentes-de-Sabre, foi publicado pela Giz Editorial em 2009).

Por que escreve?
Por diversão. Também por um sentimento meio sinistro parecido com "dever". É que parece que tenho necessidade, mais que prazer, em externar as situações que aparecem dentro da minha cabeça. Escrevo-as então numa(s) cadernetinha(s) preta(s), que mantenho sempre a mão (às vezes gravo no celular). Estas ideias são muitas vezes transpostas para meus textos (e há uma fila enorme delas!).

O que gostaria de alcançar com a sua Literatura?
Acho que a excelência, a admiração dos outros, a fama... Talvez um Jaguar com o IPVA pago na minha garagem rsrssss.... Brincadeira. Sub-repticiamente, pode-se dizer que é isso mesmo, mas na real, acho que o simples fato de produzir um texto, com começo meio e fim, já é o que quero. Mas não é só isso. Desejo uma perfeição estética que nunca alcanço, na verdade. Este desafio (inadequado) de escrever melhor a tal ponto que eu mesmo fique satisfeito com o que fiz me atormenta e me motiva, incansavelmente. Nunca, jamais (never), produzi algo que não precisei retocar. Isso nunca vai acontecer, uma palavrinha mais precisa, um artigo fora do lugar, uma vírgula que luta comigo se vai ou não existir... São sempre presentes. Mas muitas vezes pego um texto antigo, releio e acho que ficou bom. Isso me orgulha. Talvez esse prazer egocêntrico seja minha recompensa final da mesma forma que ler um texto antigo e achar coisas a serem mudadas é uma maldição.

Qual tema ou assunto que gostaria muito de abordar, mas ainda não sente a necessidade de fazê-lo agora?
Gostaria de escrever sobre a revolução de 1932. Minha mãe e meu pai tem relatos muito interessantes desta época. Nunca me senti à altura de fazê-lo. Quem sabe um dia.

O que o motiva?
Um compromisso com minha criatividade. Está no meu cerne desde menino. Era o que me diferenciava das outras crianças. Era o que atraia a admiração de meus pais, irmãos e amigos. Sempre foi o que me dava orgulho e foi o que mais desenvolvi em mim. Mesmo que essa admiração não seja mais tão calorosa atualmente (sim, meus filhos continuam alimentando meu ego), ser criativo me remete aos tempos em que isso era cotidiano. Escrever me liga a minha juventude então, à minha infância. É um modo de me manter jovem e sonhador.

Qual a sua maior inspiração?
Fantasia, pura, grossa, sem bolhas de ar e injetada direto na veia!

O que mais atrapalha?
Todo o resto. Ter de trabalhar para ganhar dinheiro, ter de dormir para levantar no dia seguinte, ter de dirigir, ter de sorrir, ter de comer, ter de brincar, ter de ser adulto. Tudo...

Qual seria o cenário perfeito para trabalhar na sua Literatura?
Acho que numa boa poltrona estofada, reclinável, com uma prancha ajustável para posicionar o notebook, num dia fresquinho, numa sala quieta, rodeado de livros, sem preocupações, com filmes (séries Roma, Crônicas de Gelo e Fogo etc.) e games (Medieval: Total War 2, Dragon Age, The Witcher 2 etc.) disponíveis para usar quando quiser. Um pouco de verde do outro lado da janela também ajuda.

O Leitor:

Qual o primeiro livro que leu e marcou a memória?
A Odisséia, de Homero, numa versão infantil que comprei pelo Clube do Livro, na década de 70. Também o Sítio, de Lobato (mas aí não lia os livros inteiros, mas apenas trechos, pois não sabia nem ler direito).

Qual a obra mais marcante?
Acho que o Velho Testamento (posso citar a Bíblia como obra literária?), pelo seu tom "verídico", pelos anjos com espadas flamejantes, pelos cabelos mágicos de Sansão, pelas batalhas, pelos hebreus atravessando o Mar Vermelho aberto como paredes de água, com todos aqueles egípcios fulos de raiva atrás deles, pelo moleque Davi que com uma pedrada destroça a testa do gigante guerreiro Golias... Tudo isso contado ao pé da cama, pela minha mãe, para eu dormir! Daí achava que se Sansão realmente existiu, Hércules também havia existido; se Golias havia existido, então havia gigantes; se havia Moisés, havia também Merlin etc.

Não vendo. Não troco. Não empresto.
Jonathan Strange & Mr. Norrel, de  Susanna Clarke. Simplesmente perfeito!

Qual o gênero e estilo literário favorito para leitura?
Fantasia, ao estilo Tolkien/ Cornwell/ Martin/ Rothfuss.

Onde, quando e como faz suas leituras?
Em qualquer lugar, na maior parte das vezes à noite, preferencialmente deitado na cama, ou numa boa poltrona, ou no banheiro (ops! Posso falar que leio livros no banheiro?)

O que muito gostaria de ler, mas ainda não encontrou oportunidade?
Olha... Gostaria de ler Guerra e Paz, de Tolstói, mas é muito caro e ainda não comprei. Gostaria de ler Proust e quase fiz isso, mas minha professora de literatura disse que não era tão premente assim (tenho comigo a ideia de que ler os clássicos é uma obrigação e Em Busca do Tempo Perdido era uma grande obrigação). Também ler Joyce (ainda vou ler Ulisses. Falta o timing certo, só isso.)

Qual livro recomendaria?
O Senhor dos Anéis (todos os três e não, não basta a série cinematográfica!).

O Autor:

Faça uma breve apresentação de sua obra mais recente.
Bem, publiquei um conto na antologia A Batalha dos Deuses (Novo Século, 2011), intitulado A Menina que Olhava. Nesse conto relato a influência maléfica sobre uma menina reprimida e solitária numa escola secundária, seu ódio pela professora e pelas outras crianças, de quem sente ciúmes. Ela se comunica com o mau, representado pelos antigos deuses egípcios (o Egito é a grande prostituta, do profeta João, na Bíblia, substituída por Roma em outras escrituras) e fala com uma entidade sombria que responde a suas ordens, por alguma razão, e ela constantemente semeia o seu amargor através deste ser. Vale a pena conferir!

Quais foram as inspirações para essa obra?
Mais ou menos é uma homenagem a minha irmã mais velha, professora aposentada.

Qual foi a parte mais legal de escrever?
Olha eu escrevo e reescrevo várias vezes, obsessivamente. Não posso, dizer qual parte (física) foi mais legal, mas talvez possa dizer que escrever pela primeira vez é bem legal. A cada reescrita fica mais distante a criação e me debruço cada vez mais na técnica, no aprimoramento, na obstinada caça a detalhes. Isso é que me faz escritor, na verdade. Temos aqui no Brasil, atualmente vários bons escritores de literatura fantástica, mas que não tem este rigor técnico, o que resulta em histórias fracas, mal escritas e com personagens chochos. A criação é sempre muito divertida, mas o legal mesmo é ver uma obra com conteúdo, no final.

Qual a parte mais trabalhosa?
Acho que já respondi na pergunta anterior. O mais trabalhoso é o refinamento do texto.

Enumere todos os livros que escreveu, inclusive em co-autorias, na ordem do mais recente ao mais antigo, e descreva brevemente o significado de cada obra para você.
Minha última obra foi como autor convidado na antologia A Batalha dos Deuses, capitaneada pelo escritor Juliano Sasseron, publicada pela Novo Século no finalzinho de 2011. Obra mais madura e mais literária que seus antecessores. Em 2009, publiquei a obra solo A Fome de Íbus - Livro do Dentes-de-Sabre, pela Giz Editorial. O romance, meu maior e mais orgulhoso filho, é parte de uma tetralogia cujos irmão ainda não foram publicados e, embora já prontos, esperam sua oportunidade de vir ao mundo. O início de tudo foi em setembro de 2007 com Anno Domini - Manuscritos Medievais, em co-autoria com uma pá de gente. Ali estavam nomes como Raphael Dracoon, Nazareth Fonseca e Helena Gomes (dentre umas quatro dezenas de outros incríveis escritores). Foi uma experiência arrebatadora, como todos os começos são: excitante, libertadora.

Destas obras que citou, qual a mais curtiu?
O Livro do Dentes-de-Sabre. Por ser o primeiro livro que escrevi (mas não o primeiro texto a ser publicado) e até hoje o cerne de minha criação fantástica. Não tenho outra obra melhor. Tenho livros guardados e gestando, mas A Fome de Íbus, como uma saga completa, é valioso para mim. Foi escrita e reescrita, como tudo mais que faço e, embora sendo o primeiro, incorporou melhorias durante os anos e anos de meu humilde aprendizado nas letras. Definitivamente, não é o primeiro livro de um autor principiante. Não resta nada daquele princípio. A saga toda é forte e boa, com qualidades literárias sem as quais não admitiria publicá-la. Tenho orgulho deste livro (e aí está o que um autor mais quer de recompensa ao escrever: ter orgulho de ter sido pai de um bom texto).

Qual foi mais trabalhosa?
Acho que o terceiro volume de A Fome de Íbus, intitulado Livro de Ferro (ainda inédito) por fechar muitos dos arcos abertos no primeiro livro. E, como parte do miolo de uma obra maior, agrega todo o arcabouço técnico de não permitir que o leitor se entregue a chatice de uma obra longa. Acho que me saí bem.

Qual superou as suas expectativas?
Todos eles. Vem exatamente do fato de se reescrever e reescrever e sempre se tornar melhor que antes. No final sempre há muita satisfação e até alguma surpresa porque não reflete mais a premissa inicial. Os livros tem disso, eles ganham vida própria e não permitem ser conduzidos docilmente por todos os lados. Acabam ganhando algumas lutas com o autor e isso é realmente surpreendente!

Qual reescreveria ou daria continuidade?
Qual reescreveria? Todos! Sempre faço isso.

Fale sobre os seus personagens favoritos e o que há nele para ser o dileto?
Gosto de Gelfor e Dorfhull. Gosto de Haskor acima dos outros e ultimamente tenho escrito um spin-off de A Fome de Íbus com Haskor, como personagem principal e Tellor, o mago, como um importante coadjuvante, dentre outros caras novos (mais isso ainda é surpresa!).

No que gostaria de transformar A Menina que Olhava, presente na antologia A Batalha dos Deuses?
Num sucesso! Em algo que me abrisse definitivamente as portas do mercado editorial.

Quais os seus contatos e onde poderíamos adquirir as suas obras?
Nas livrarias e grandes redes, fisicamente e pela internet: Livraria Cultura, Saraiva, Submarino, Lojas Americanas etc.).

sexta-feira, 16 de março de 2012

Entrevista - César Soares Farias

O Entrevistado da semana é CÉSAR SOARES, autor do livro "O Grande Pajé".

O Escritor:

Quando começou a escrever?
Por incrível que pareça, comecei escrevendo uma autobiografia dos meus primeiros 19 anos de vida. Talvez, daqui há alguns anos, quando a fama me abraçar, os leitores se interessarão por ela.

Por que escreve?
Utilizo a escrita como forma de expressão. Através dela ataco e me defendo. 

O que gostaria de alcançar com a sua Literatura?
O clichê “salvar o mundo” até hoje me atrai.

Qual tema ou assunto que gostaria muito de abordar, mas ainda não sente a necessidade de fazê-lo agora?
Literatura infantil.

O que o motiva?
A renovação dos tempos, segundo consta nos livros sagrados.

O que mais atrapalha?
Barulho e álcool.

Qual seria o cenário perfeito para trabalhar na sua Literatura?
De preferência à noite, em silêncio, uma hora após fumar minha ganja e organizar as idéias.


O Leitor:

Qual o primeiro livro que leu e marcou a memória?
“A Ilha Perdida” de Maria José Dupré (acho que é esse o nome dela.

Qual a obra mais marcante?
“O Exorcista”. Deu medo...

Não vendo. Não troco. Não empresto.
“A Revolução dos Bichos”, de George Orwell.

Qual o gênero e estilo literário favoritos para leitura?
Basta que as idéias e a narrativa soem bem ao meu intelecto.

Onde, quando e como faz suas leituras?
Devido ao meu ritmo frenético de trabalhador assalariado, aos finais de semanas e feriados. Diariamente, apenas durante férias e licenças-prêmios.

O que muito gostaria de ler, mas ainda não encontrou oportunidade?
Hoje em dia, em plena era da Internet, praticamente inexistem livros inacessíveis. A questão é muito mais de tempo e oportunidade. Felizmente, até aqui, todos os livros que eu realmente desejei, consegui lê-los.

Qual livro recomendaria?
Novamente... “A Revolução dos Bichos”, pois numa linguagem didática e metafórica, retrata o que acontece quando homens medíocres têm em mãos o poder de ditarem as leis.

O Autor:

Faça uma breve apresentação de sua obra mais recente.
“O Grande Pajé”, originalmente, foi concebido há quase 20 anos atrás, em formato de romance. Na época, insatisfeito com o resultado final daquela minha 1ª aventura literária, engavetei-o sem pretensões de publicá-lo. Posteriormente, acabei descobrindo a minha real aptidão para histórias curtas, lançando uma coletânea em 2007. Logo em seguida, produzi novos contos e incorporei o texto de “O Grande Pajé”, em versão reduzida, na atual coletânea.

Quais foram as inspirações para essa obra?
Como se trata de uma coletânea, as inspirações foram as mais diversas

Enumere todos os livros que escreveu, inclusive em co-autorias, na ordem do mais recente ao mais antigo, e descreva brevemente o significado de cada obra para você:
“O Grande Pajé”, “Utopias Papareias” e a coletânea “Voo Independente 6” (participei com 1 poesia). Acho que os dois principais diferenciais entre o “Utopias...” e “O Grande Pajé”, meus dois trabalhos solos, é o tamanho dos textos e um comprometimento maior com temáticas sociais. No primeiro, os contos eram longos e a minha veia cronista sobrepujava-se em vários momentos da obra, sem grandes preocupações com a discussão de ideias. O cômico e o hilário foram elevados a um alto patamar e ditaram o ritmo daquele livro. Já nesse segundo, as histórias encurtaram e em cada uma delas (com exceção de “A mulher e a TV 29’”) há um objetivo definido à conduzir o leitor.

Destas obras que citou, qual a mais curtiu?
“O Grande Pajé”, pois aprimorei nele alguns conceitos que amadureceram entre um e outro.

Qual foi mais trabalhosa? 
Também a última.

Qual superou as suas expectativas?
Minha principal expectativa é superar, em vários quesitos, o desempenho da minha obra anterior. Tenho conseguido isso passo a passo, portanto considero prematura uma análise mais conclusiva desse aspecto.

Qual reescreveria ou daria continuidade?
Em “Utopias Papareias” tem um conto chamado “A Liga dos Judiados”, que termina com o desembarque de alguns rebeldes revolucionários numa ilha, em pequenos barcos de pescadores. Eles se decepcionaram com o prefeito da cidade deles e migraram pra uma “terra prometida” pra iniciar uma nova comunidade. Talvez, futuramente, eu dê sequência a essa história.

Fale sobre o seu personagem favorito e o que há nele para ser o dileto?
O Tupã de “O Grande Pajé”, pois faz uma junção entre Jesus Cristo e a sabedoria visionária e curativa dos pajés indígenas.

No que gostaria de transformar “O Grande Pagé”?
Talvez algum dia esse conto, “O Grande Pajé”, vire um curta-metragem.

Que tipos de afirmações estão contidas nesta obra?
Não faço afirmações. Apenas narro situações para que o leitor tire delas as suas impressões.

Quais são as mensagens que esta obra transmite ao leitor?
Consciência vegetariana, respeito às liberdades individuais e críticas à hipocrisia em vários níveis sociais.

Quais os seus contatos e aonde poderíamos adquirir as suas obras?
Sou meio reticente com essas tantas possibilidades da Internet, que demandam muito tempo pra desfrutá-las. Mesmo assim tenho um blog pra vender o meu livro:
http://experienciatitude.blogspot.com/
                               

terça-feira, 13 de março de 2012

Resenha - Sagas 3 – Martelo das Bruxas

Sagas 3 – Martelo das Bruxas

O período da Inquisição, a maior mácula  da Igreja, durou aproximadamente 1000 anos distribuidos em vários períodos, desde 1184 até (pasme!) 1965, tornando a Idade Media uma Era ainda mais trevosa do que jamais fora. A imbecilidade unida à extrema maldade condenou até mesmo crianças inocentes e animais às torturas e mortes execráveis. Se o próprio Cristo estivesse na Terra nesse período, provavelmente também teria ardido em chamas, pois que Ele fora o maior Bruxo que caminhou por este mundo!

Tendo tal período como pano de fundo, a Editora Argonautas trás o terceiro e, até então, último volume da série Sagas.

Assim como os dois primeiros volumes – Espada & Magia e Estranho Oeste – o formato é o pocketbook, com 124 páginas e 5 noveletas contadas pelos autores Ana Cristina Rodrigues, Ana Lúcia Merege, Christopher Kastensmidt, Douglas MCT e Duda Falcão, com capa de Fred Macedo e prefácio de Simone Marques.

Meu Achismo:

Cada História Tem...
De Christopher Kastensmidt


O cenário é o Brasil colonial e a história transcorre na cidade de Olinda, em Pernambuco.

É estranho imaginar que a Santa Inquisição tenha chegado até nossas terras, mas chegou, sendo aqui, como sempre, um dos últimos lugares em que essa hediondez fora abolida, assim como a escravatura e as execuções por enforcamento, sendo que a a última fora apenas um há pouco mais de 100 anos, em Macaé, RJ, onde hoje é uma escola pública.

Como aqui sempre teve tudo que não prestasse, esse período demente de “caça às bruxas” foi retratado no conto de Christopher.

Tudo começou com uma flagelação em praça pública, em que a bruxa Felipa era açoitada e humilhada diante de todos, antes de ser degredada para Luanda, um lugar pior que o inferno e uma situação pior que a morte. Por sorte, Beatriz interferiu, salvando a amiga. Com um ato de indignação fanática teatral, ela lança ao rosto da bruxa um pó venenoso, libertando-a do sofrimento. Ninguém percebeu o ato de Beatriz, a não ser o astuto Pedro Luiz, o Visitador do Santo Ofício de Lisboa e o inquisidor responsável pelas sentenças de bruxaria no Brasil.

A história é narrada em 3ª pessoa, mas contada sob dois pontos de vista diferentes: a de Beatriz e a de Pedro Luiz. Desta forma, não temos na história um “vilão” que, obviamente, seria representado pelo inquisidor, pois que Pedro Luiz age corretamente dentro do conceito que era tomado como bom e certo, por mais absurdo que seja pensar que algo tão abominável como a tortura e assassinato esteja catalogado como sendo o certo a ser feito. Na concepção doentia que provinha do fanatismo da época (e que, absurdamente, em plena segunda década do século 21, ainda existe!), a tortura e a morte daqueles considerados bruxos era uma forma benevolente de libertar-lhes a alma e devolve-los aos braços de Deus.

A narrativa é envolvente e a história é densa, dramática, e o final é a crucificação consciencial que o vencedor terá de enfrentar até o fim da vida. Sem herói nem vilão. Sem bem nem mal. Apenas os fatos e as escolhas.


O Quão Forte Pode Um Gigante Gritar?
Ana Cristina Rodrigues


Neste conto de Ana Cristina, a ficção e a fantasia se misturam na narrativa sobre “Encantados” da Mitologia Celta, híbridos nascidos da união desses seres com humanos, druidas e o fanatismo real da Santa Inquisição que chegara às distantes terras da Irlanda da Idade Média.

Angus, o híbrido filho de Fomori, um gigante banido pelo Conselho Sidhe, volta à terra depois de passar 10 anos no mar, navegando junto aos humanos. Encarregado de entregar uma carta do cartógrafo da expedição em que participava ao irmão dele, na aldeia chamada Lakewood, Angus aproveita a ocasião para rever o pai Encantado.

Enquanto caminham, Fomori vai narrando a devastação de aldeias de fadas e outros seres, através da destruição dos bosques e a “purificação” da área, exterminando toda uma fauna de pequenos sidhes, e como a Igreja também ali se instalara e da selvagem perseguição aos druidas.

Quando Angus foi até a igreja entregar a carta, um desesperado grito místico reverberou em sua mente e ele não conseguiu ignorar o apelo, apesar dos conselhos de seu pai. E essa foi a desgraça para ele e para o fomorian.

O final é muito triste. Fomori sobreviveu, mas para sempre teria aquele grito de dor ecoando em sua mente.

O conto é muito bom e há toda uma gama de pequenas histórias inseridas nele. O único adendo é para uns três vacilos que passaram despercebidos na revisão.

Encruzilhada
Douglas MCT

Esta noveleta mais parece um exercício de braimstorm do que propriamente um conto. Na ânsia de querer ser diferente, inovador, o autor acaba por criar textos non senses. Por acaso, me lembrou de Alice no País das Maravilhas, com seu colho louco falante e lagarta que puxa larica. É para quem realmente gosta.

Mara e Koliada são irmãos, duas pequenas bruxas que começavam a ouvir o chamado de seu destino, através de sonhos premonitórios com o coven ao qual deveriam cumprir três tarefas para que fossem aceitas efetivamente ao círculo das bruxas. Porém, Dola, a governanta perversa e cristã, fazia da vida das duas meninas um inferno.

Noite é um gato falante e o responsável por ditar as tarefas para as pequenas bruxas. Mara se encarregaria da primeira tarefa, que era capturar a Corda da Inquisição, que estava num moinho abandonado. A segunda e terceira tarefas eram mais macabras que isso.

A Justiça Deste Mundo
Ana Lúcia Merege


O ano é de 1645 e a Era das Trevas da Inquisição estava no seu auge. As pessoas eram acusadas de bruxaria pelas situações mais ridículas, como “suspeita de lançar mau-olhado sobre uma criança” ou “verrugas que não sagram ao serem feridas”. Pelas torturas e pelo tempo que essas pessoas eram mantidas presas em porões, elas confessavam qualquer coisa que os inquisidores queriam, pois a fogueira ou decapitação deveria ser uma benevolência diante de tanto horror praticado contra elas.

Benjamin Lamb é um jovem reverendo que tem seu primo-irmão Nicholas acusado de bruxaria e trancafiado com correntes no porão podre, que usavam para aprisionar os suspeitos. Ao encontra-lo, apenas vê um farrapo humano quase enlouquecido. A perversidade é tanta que nem com as suas influências Benjamin consegue libertar o primo. Mas o que parece mesmo ser difícil para ele é ter um parente nessas condições e ainda por cima ter que falar do primo herege à mãe e familiares.

Crendo que ele poderia ser útil de outra forma, Agnes, a noiva de Nicholas, marca um encontro com ele, na noite seguinte, mas nada poderia preparar o jovem reverendo para a revelação que teria: que os seus familiares, que é Agnes e seus pais, mais a sua própria mãe, Mary Lamb, são praticantes da Magia.

Porém, a cegueira do fanatismo não permite que o rapaz enxergue com lucidez a situação à sua frente, repudiando até mesmo a própria mãe. Descontrolado, Benjamin foge em busca de Bailey, reverendo e caçador de bruxas, para delatar a própria família. Tal estupidez o faz presenciar a verdade, em que realmente o Mal reside e, futuramente, o fará amargar um infernal remorso.

Como todos os escritos de Ana Lúcia Merege, este também é dramático, emotivo, que faz o leitor vivenciar a história contada por ela, fazendo com que fiquemos a ruminar mentalmente a história ainda por um bom tempo... sinal de história marcante, que mostra ao que veio. Isso é um dom. E, como dom, é raro!

Missa Negra
Duda Falcão


Nesta noveleta, Duda Falcão não teve o mesmo feliz sucesso, como foi com seus contos anteriores nos dois primeiros volumes de Sagas.

Inspirado nas musicas da Black Sabbath, o conto mostrou o lado obscuro e tétrico da bruxaria, aquele mesmo que por todos os séculos – e ainda hoje – foi disseminado como sendo verdadeiro.

A Magia não tem cor nem moral: ela é neutra. O praticante que dá o tom para obter o resultado que deseja. Mas, aqui, o autor mostrou o pior lado. O lado de pessoas más que manipulam as energias da natureza para propósitos malignos e mesquinhos.

O protagonista sem nome faz a narrativa da história, e começa contando sobre todas as desgraças que ocorreram na pequena cidade para onde se mudou há pouco tempo. Plantações e solos arrasados; nascimentos de aberrações; animais morrendo de fome; as forças da natureza agindo com severidade; pragas de insetos.

Enquanto as desgraças se abatiam sobre todos da pequena cidade, apenas uma família e sua propriedade prosperavam... e isso despertou a desconfiança do restante da população.

Até que, numa noite, o protagonista descobre o mistério que envolvia os vizinhos prósperos e até mesmo a sua esposa! Despertou no meio da madrugada, embriagado pelo estranho chá que a esposa lhe servira antes de deitar, e sentiu-se compelido a sair de casa e adentrar na mata próxima. De tocaia, acabou por presenciar uma infame “missa negra”, em que até o diabo deu o ar de sua graça, ironicamente falando, é claro.

Bem, dentre tantas histórias defendendo a benevolência das bruxas, de vez em quando uma do contra vem quebrar a rotina...

Achismo Final:

O tema “bruxaria” é extenso e complexo, podendo render infindáveis histórias. Em Sagas 3, nenhum conto é semelhante ao outro. Todos são criativos e a diversidade de cenário e enredo quebra uma possível monotonia frequentemente notada em antologias.

terça-feira, 6 de março de 2012

Entrevista - Alex D'Guyan

O entrevistado desta semana é ALEX D'GUYAN, autor do romance sobre Orixás Sol Negro e Lua Branca, publicado no Clube de Autores.

O Escritor:

Quando começou a escrever?
Eu comecei desenhando histórias em quadrinhos em casa, com 6 anos, na 1° série... nem sabia direito o que colocar nos balões, pois nem dominava todo o alfabeto da língua portuguesa ainda, mas escrevia neles... isso já era um roteirizar, estava ali toda a semente, toda a estrutura básica da dramaturgia... tudo bem, ok:  sei que isso parece papo de Pedagogo... (risos)
Na escola, em minha 4° série, professora Marlene dizia que eu escrevia tri bem prosa e crônica e, ainda com 9 anos, eu havia escrito um discurso na escola, sei lá porque: “O que farei como Governador do Estado do Rio Grande do Sul?” Lembro até hoje da cara de espanto da professora Marlene quando eu fui lá na frente dos meus colegas para ler meu discurso na maior cara-de-pau! Que horror: eu já era um hipócrita demagogo desde os meus 9 anos e não sabia?! (risos)

Por que escreve?
Obrigado por você me fazer esta importante questão... incrivelmente fácil de responder! (risos) Eu simplesmente não sei responder isso! Escrever para mim é como respirar: só sei que se eu parar, eu me ferro! (risos)

O que gostaria de alcançar com a sua Literatura?
Dominar o mundo? Dá tanto trabalho, ai, ai... eu ando muito preguiçoso, sabe?... Prefiro ficar deitado na minha rede, me espreguiçando...
Salvar a Humanidade? Não é necessário: ela já está salva, sempre esteve... só precisa desejar se acordar para isso... (sorriso)
E quando você se despede de uma pessoa muito amada, que passou a morar num Outro Lugar da Vida: fazer dinheiro, ter um monte de badulacos, fama, glória... tudo isso adquire um sentido tão diferente!
Viver é uma delícia, e uma delícia é tanto mais deliciosa quanto menor a pretensão... minha Literatura não tem pretensão além dessa: ver as pessoas sorrindo felizes porque leram palavras que nasceram de mim. É tudo tão simples! (suspiro)

Qual tema ou assunto que gostaria muito de abordar, mas ainda não sente a necessidade de fazê-lo agora?
Puxa, era realmente abordar EXPLICITAMENTE sobre Divindades Afro-brasileiras... e PELO CONTRÁRIO, eu tinha TODA A NECESSIDADE do mundo para abordar isso, mas era tri difícil para mim, porque para mim o Divino, o Sublime, não tem nada a ver com Religião Formal! A transcende!
Religião Formal quase sempre cai no dogma, no controle, no poder opressor... E quando você escreve a palavra “Orixá”, pronto: lá vem todo mundo achando que você está falando de Religião Formal (que mais desune as pessoas do que une!), e não falando do Sublime, que sempre UNE!
Levei mais de três anos me martirizando em como resolver isso sem fazer Religião Formal. Foi só quando consegui escrever meu “Manifesto pelos Orixás na Cultura Pop” que nasceu o que me faltava para tornar público “Sol Negro & Lua Branca” que escrevia há tempos, com o tema que eu mais queria abordar na vida: Orixás, Entidades e Médiuns Educados como “super-heróis”!
Afinal: quando você vê um filme ou série de TV com o Arcanjo Miguel, Gabriel, ou com Atena, Thor, você pensa em Religião? Não, né?! É o Sublime que você talvez possa ver se expressar ali numa mensagem universal!
A Religião Formal é tão local e tão temporal, por isso tão presa... mas o Sublime, ah, o Sublime: ele é tão do Universo! Tão Livre!

O que o motiva?
Fé! Fé de que o Humano em nós sempre pode vencer nossas Trevas quando realmente queremos... Fé de que nossa ignorância sobre nós mesmos sempre pode ser diminuída... Fé de que somos capazes de “aceitar o outro, o diferente de mim” se realmente quisermos!
O dia em que o Alex aqui perder a Fé nisso aí, pode enterrar: ele já está morto, é só um zumbi que mal respira...
Fé, nutrindo Razão, Firmeza e Amor: este é o centro do meu viver!

Qual a sua maior inspiração?
Meus olhos no espelho... se estão sem brilho, algo está muito errado e preciso descobrir o que é e tentar consertar... se estão brilhantes, wow, é só alegria: tudo irá bem!
Inspiração, lá dos vovôs gregos, tem a ver com Alma...
E se os olhos são o Espelho da Alma, posso dizer que sentir meus olhos brilhando é minha maior Inspiração!

O que mais atrapalha?

Essa resposta o Llosa (prêmio Nobel de Literatura) já deu com toda a beleza, quando soube que lhe deram o Nobel por seu “Conversa na Catedral”... ele disse mais ou menos isso:
“Quando escrevi ‘Conversa na Catedral’ jamais pensei em prêmios, nem em reconhecimento, nem em agradar a ninguém: o escrevi para ser sincero comigo mesmo.”
Sinto que ficar pensando em “o que os outros vão dizer?”, “será que vão gostar?” “terei leitores?” é o maior embargo à Força Criadora Viva que pulsa dentro da gente, pois deixamos de ser sinceros com a gente mesmo... negar-se para “fazer gracinha pros outros” é um monstro que nos devora por dentro!
Mas a Sinceridade tem um poder incrível: sempre alguém te lerá, mesmo que demore muito... e essa pessoa que te leu irá te nutrir!
E um dia até, quem sabe, algum reconhecimento pode surgir?! Llosa não esperou uns 30 anos e veio para ele o reconhecimento máximo? (risos)

Qual seria o cenário perfeito para trabalhar na sua Literatura?
O Érico Veríssimo, um dos maiores escritores gaúchos, escrevia no porão da casa dele, pode? E ele dizia todo contente: “Eis a minha Toca da Liberdade!”
Toca pra cá, toca pra lá, meu quarto é minha Toca da Liberdade! (risos)
Hora? É quando vem aquela ideia, aquela frase, aquelas palavrinhas esculpidas, exatas, ou aquela imagem completa na mente, como num download, implorando: “Please, me transforme em letras!”. O saco é quando isso acontece de madrugada e tenho que levantar cedo no dia seguinte... mas, ah, que tentação! Então há um bloquinho e canetas sempre por perto!
E sempre que posso, escrevo com música no PC, óbvio! Somos a geração walkman, né? Walkman... credo, que papo mais fóssil tecnológico! (risos)
O estilo de música e a música exata dependem do tema que escrevo, mas o meu critério de seleção é baseado no sentimento que sinto sair das notas... por isso pode ser, por exemplo, para um capítulo de ação: desde uma ópera de Wagner, passando por trilhas de cinema de ação, até pop-rock porreta! Onívoro musical!
Mas sendo deliciosamente politicamente (IN)correto: funk e pagode, eca, que nojo!

Uma sugestão de vida aos novos escritores e escritoras?
Serei polêmico... como sempre... deve ser meu Karma! (risos)
“A Dor ensina a Gemer” e “A Necessidade faz o Sapo Saltar”, ou seja, saber viver só vem vivendo... no meu viver, aprendi que toda nossa Civilização é ancorada na Mentira: nos ensinam de todas as formas possíveis a mentir o tempo todo e depois ainda te dizem que “não pode mentir: mentir é feio”... ah, vá, me poupe!
As “boas maneiras” te ensinam a mentir:
“- Você quer outra fatia de bolo? – Não, obrigada!”
O traficante e o “Judiciário” te ensinam a mentir:
“Não, Sr. Policial, não vi nem ouvi nada!”
A professora “libertária” da Universidade te ensina a mentir:
“- Alguém tem alguma dúvida? (leia-se: ousa discordar da minha ideologia?) – Não, professora!”
O empregador te ensina a mentir:
“Sim, isso é uma boa idéia, chefe!”
Isso tem futuro? Lógico que não... esta Civilização vai desabar um dia. Gigante com pés de barro... Mas até que ela desabe, abrindo espaço para algo novo nascer, você precisa ficar vivo, você tem que sobreviver! Então minha sugestão é:
Aprenda a nadar como um Golfinho no Oceano Fétido de Mentira, de Mediocridade e de Hipocrisia, jamais nadando como um Tubarão!
O Tubarão deixa toda a Mentira entrar por suas brânquias, aquela água fétida percorre todo o seu corpo e passa a fazer parte dele (jamais seja um Tubarão Social e aprenda rápido a lidar com eles! Fique Esperto, senão eles comem você!)
Mas o Golfinho... ah, ele nada nessa porcaria toda, vai até a superfície, e cospe por suas narinas toda a água fétida que nele entrar!
O que eu quis dizer com isso tudo?
Que nunca, pelamordedeus, nunca minta para você mesmo! Nunca!
Seja você com você mesmo o último bastião de Resistência da Verdade em que Você Acredita, sempre ouça a Sua Verdade, que brilha em seu peito, e sempre que você escrever, deixe que Sua Verdade paire sobre toda essa Meleca de Mentiras: que seus Livros e sua Obra sejam a sua Fortaleza, o seu Castelo, a sua Espada e a sua Armadura!
Resista através de seus livros, seja Livre em suas letras: deixe elas sempre passarem pela Arca do seu Coração, da sua Alma! E mande à pqp o que os outros pensarem de você, se criticarem você, ignorarem você, desprezarem você, isolarem você quando lerem a Sua Verdade!
Jamais traia a você mesmo e você mesma, novo escritor e nova escritora: essa talvez seja uma linda forma de ser Alternativo (Resistência ao que desumaniza!) e Independente (aspirar à Liberdade!)... talvez esta seja uma bela forma de sermos Alternativos & Independentes! (sorriso)

O Leitor:

Qual o primeiro livro que leu e marcou a memória?
Marcante... que me marcou como ferro em brasa... bom, aos 12 anos eu queria entender muito o Sofrimento... o que se poderia fazer para diminuir o Sofrimento das pessoas... queria entender o Sentido disso tudo ao nosso redor, essa “loucura” toda... e então li (e tri escondidinho!) “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.

Qual a obra mais marcante?
Puxa, com dificuldade seleciono três, menos que isso, impossível: “A Teia da Vida”, do físico Fritjof Capra, “Frankenstein” da romancista gótica Mary Shelley e “A Cabeça Bem Feita” do filósofo Edgar Morin.

Não vendo. Não troco. Não empresto.
Xi, você pegou meu dark side da Força... não vendo, não troco e não empresto nenhum livro! Mas suspeito que eles também devem ser ciumentos, porque não saem da minha cola por nada desse mundo... assim eu não posso dizer o nome do que mais amo: geraria muitas brigas de ciúmes por aqui nas minhas estantes! (risos)
Emprestar meus livros... era segredo, mas tudo bem, lá vai: só acontece em um específico estágio da minha vida... se emprestei algum livro da minha biblioteca pode ter certeza: é porque estou enlouquecidamente apaixonado pela guria que emprestei! (risos)

Qual o gênero e estilo literário favoritos para leitura?
Bah, novamente, obrigado por me fazer essa importante questão... e de resposta tão fácil... Puxa... não sei! Acho que vou pegar do Edgar Morin a cola para essa resposta: “Sou um Onívoro Cultural!” Como de tudo o que é digerível! (risos)

Quais personagens da Literatura você tem pena?

Xi, esta será uma resposta polêmica para quem gosta de Romances de Realismo Fantástico... mas vamos lá: tenho pena do Vampiro Edward e de sua Bella Swan, sabe?
Ele... um carinha que viveu muito... que tem uma quantidade enorme de poderes e possibilidades... e teve aquela vidinha tão boboca, vazia, inútil... qual a contribuição dele para a Sociedade, para a Humanidade, para os de sua Espécie, para as outras Espécies da Teia da Vida, para o Planeta Terra, para o Kosmos, para Si Mesmo? Puxa, nenhuma... é de dar pena... por que? Porque ele poderia contribuir tanto, mas escolheu ficar preso em seu drama pessoal, se vitimizando: “sou um monstro, pobrezinho de mim!” Nem Frankenstein, de Mary Shelley, fez isso! Frankenstein buscou se Humanizar e crescer, e numa condição muito pior que Edward, só por isso ele fracassou! E ainda assim ele é heróico em seu final! Tenho mais pena de Edward do que de Frankenstein...
Edward... tanta irresponsabilidade, inclusive consigo mesmo... Quanto poder, quanta possibilidade, absolutamente jogadas fora. É de dar pena mesmo, sabe? Stan Lee, nas palavras de seu personagem Tio Ben Parker, roteirizou essa frase: “Quanto maior o poder, maior a responsabilidade” (e assim nasceu o Homem-Aranha). Esta é uma típica frase da Cultura Pop repleta de imensa Sabedoria! Frankenstein só virou um monstro porque foi abandonado pelo seu criador, era odiado por tudo e por todos e não tinha um Tio Ben... ainda assim o Velho Cego quase o salvou!
Ela... Bella Swan... uma garota com inteligência tão pequena... sente-se inadaptada e sozinha mas na realidade não tem motivo algum para isso, porque ela é absolutamente normal (de norma: média, medíocre) como as garotas ao redor dela. Aquele “pretinho básico”... Onde a inadaptação e solidão se ela está no seu habitat natural, com suas iguais, repleta de companhia? É de dar dó: ela não percebe nada ao redor dela... não reflete... não critica... não se revolta... não faz nada para que a vida dela tenha um Sentido Maior que um baile e um namoro... Bella é tão vazia... sem conteúdo... insossa... sem sabor, aquele “morno que Deus cospe”... ela é tão Não-Bella, sem Beleza. Ela não faz nada para Ser Mais perante Si Mesma...
Ela: vazia. Ele: vazio. Não é a toa que se apaixonaram perdidamente, pois é a Lei da Afinidade: “ursinho não anda com coelhinho”...
É um casal de dar uma imensa dó, sabe? Uma pena, mesmo...
Frankenstein fará 200 anos em 2016, viveu muito e ainda viverá! Edward viverá mais 20 anos?

Onde, quando e como faz suas leituras?

Leio dentro do ônibus, leio esperando no terminal, leio em filas (ótimo lugar para se ler: a fila anda ra-pi-di-nho!), em casa na cama (ah, que delícia ler na cama!), no PC... Mas nunca medi quantas horas de leitura ao dia eu faço... Ler e escrever são parte de meu próprio corpo... medir... acho que seria como medir o tempo de fazer amor com a pessoa amada: sem medição, a gente apenas vive o momento porque aquilo te preenche de VIDA!

O que muito gostaria de ler, mas ainda não encontrou oportunidade?
Puxa, já pensou ter em suas mãos, desde que você nasce nesta vida, o “Manual das Divindades: faça você mesmo um Universo em 10 Volumes”?
“Volume 1: Descubra primeiro o Universo dentro de você”...
“Volume 2: Aprenda a SENTIR e não pensar o Sentido da Existência”...
E os outros 8 Volumes? Eu nem faço idéia quais são! (risos)

Qual livro recomendaria?
“O Livro Tibetano dos Mortos”... sempre me fascinou descobrir “O que há além da esquina?”, “Quem eu sou: um ou dois?”, “Como eu funciono sendo dois?” (Essência e Ego). Esse livro é um Clássico da Humanidade, tem mais de 800 anos, é pequeno, e dá muitas dicas sobre como cada um pode responder, consigo mesmo, essas perguntas!

O Autor:

Faça uma breve apresentação de sua obra mais recente.
Sem dúvida, minha mais recente obra publicada é a melhor obra que já escrevi: o primeiro volume da série “Sol Negro & Lua Branca”! Nela tento colocar aquelas questões mais básicas e universais que as pessoas têm e vivem: Vida, Morte, Sociedade, Individualidade, Amor, Sofrimento... tendo como pano de fundo todas as minhas preocupações sobre o futuro climático do Planeta e suas consequências... e tudo isso imerso em uma nova forma de Ação Afirmativa dos povos ancestrais que cultuavam a Natureza: coloco os Orixás e seus médiuns educados como “super-heróis”!
Apesar de falar de Orixás, é um tributo a toda fé que nos religa à Natureza, que nos UNE à Mãe Terra, à Teia da Vida, ao Universo! Que nos faz “voltar para casa”!
Em uma palavra: Conexão! A Conexão é central nessa série! (sorriso)

Quais foram as inspirações para essa obra?
Há muitos e muitos anos, num tempo tão tão distante (o Shrek que nem ouse me cobrar royaltys por isso!) eu estava andando no centro de Porto Alegre, bem na esquina da R. Dr. Flores com a Av. Salgado Filho, e havia ali lindamente pintada, como propaganda na parede de uma oficina de tatuagens, uma imagem: Tempestade, dos X-men!
Tempestade, naquela parede, aquela linda africana com os olhos radiantes, os cabelo dançando ao vento, e aqueles relâmpagos atrás dela, me fez ter um “click”:
“Putz, parece uma Yansã!”
Naquele exato momento nasceu “Sol Negro & Lua Branca: o Retorno dos Orixás Andantes”! (suspiro de saudade)

Qual foi a parte mais legal de escrever?
Juro que não estaria te mentindo se dissesse que foram as 687 páginas! Puxa, foi algo “mágico” ver aqueles anos todos de ideias tomando forma... vendo até como eu melhorava como pessoa escrevendo, aprendendo a ter cada vez mais empatia, ao ponto de tentar entender e amar tudo o que é Belo: os Orixás, o Humano, o Sublime, o Universo Feminino... tanta coisa!

Qual a parte mais trabalhosa?
Sem dúvida, é se colocar na pele de uma garota de 19 anos, a personagem narradora: Selene!
Escrever em primeira pessoa, tentando passar a ideia de que o leitor e a leitora conversam realmente com uma moça... que desafio impressionante!
Como nós, homens e mulheres, somos realmente diferentes! Como há coisas que “passavam batido” que sequer eu percebia antes de escrever: há tantos detalhes nas nossas diferenças... E isso é incrivelmente tão Belo!
O problema nunca foi a diferença, mas sim que não queremos entender nem aceitar nossas diferenças...
Precisa-se treinar muito a empatia, essa capacidade de se colocar no lugar do outro, para se compreender o teu outro, seja este teu outro uma moça, uma religião, uma ideologia, uma região, um país... faltando empatia, vem toda essa porcaria de guerra de sexos e outras melecas, esse conflito besta todo...
Mas posso dizer que quanto mais difícil e misteriosa é Selene para mim, quanto mais ela é complicada de ser construída, linha a linha, mais eu me enriqueci perante mim mesmo! (sorriso)

Enumere todos os livros que escreveu, inclusive em co-autorias, na ordem do mais recente ao mais antigo, e descreva brevemente o significado de cada obra para você:
- “Ió-reh: um ato heróico” – é um poema sem rima, como aqueles do Manuel Bandeira, mas trata das coisas mais profundas da Vida, contando a história de um Elemental de Fogo, Ió-reh, e sua jornada numa Realidade Ecológica de Fogo ligada à Terra, descobrindo a si mesmo e o que é verdadeiramente ser um herói ao enfrentar os 6 monstros (as 6 grandes tentações do viver para todos nós: as 3 internas e as 3 externas). Fiz em 22 capítulos, todos em sintonia com o caminho dos 22 Arcanos Maiores do Tarot... e sempre há um suave toque de humor! (a publicar – terminado em 2011)

- “Umbanda: Prosperidade na Teia da Vida versus Prosperidade Predatória” – é um livro de reflexão, em que todos os meus medos ambientais se mostram; as consequências do imobilismo das “Religiões da Natureza” fazendo tão pouco perante a imensa Crise Global em que estamos mergulhando de cabeça nessa Economia Predatória pirada; e sugestões e esperanças para que superemos esses imensos desafios da Era Planetária usando, com outras ferramentas, a Umbanda como parte da solução e não mais como parte do problema. Sim, eu meto mesmo o dedo bem na ferida: polemizar e ser um “escritor maldito” como Michel Houllebecq é mesmo meu Karma! (a publicar – terminado em 2011)

- “O Contador de Histórias: Contos de Amor dos Orixás e Outras Histórias” – são contos das várias faces do Amor inspiradas nos Orixás, desde o Amor Romântico ao Amor pela Justiça, e outros contos que nos fazem pensar, sempre tendo um suave toque de humor! Há um (sobre Intolerância) que faria a intolerância de alguns evangélicos me queimar vivo numa fogueira se a Constituição Federal de 1988 não me protegesse! Tem que ser meu Karma, mesmo! (risos!) (a publicar – terminado em 2011)

- “Sol Negro & Lua Branca: o Retorno dos Orixás Andantes – Postagem Um: Off, Desconectada!” – eis a “minha Selene”, esta filha de Oxum que me dá um trabalho do cão... e que é a melhor coisa que eu jamais sonhei que poderia deixar para as pessoas! (sorriso) (terminado e publicado em 2011! Wow!)

- “Reine: a história de uma Bruxa” – “Reine” nasceu junto com “Selene”, há muitos anos, mas logo elas tomaram rumos diferentes. É a história de uma jovem francesa, Reine, em 1890, na belle époque, trilhando o Caminho da Magia a partir de sua doença incurável para a medicina da época (e de hoje!): uma terrível Obsessão Espiritual Hipercomplexa envolvendo um jogo perigoso muito maior do que parecia ser: Geopolítica e o Abismo! (a publicar – terminado em 2009)

- “Seu Chico das Teias e a História do Bicho-homem e o Umbigo” – é um livro de Literatura Infantil, onde eu ponho a criançada a pensar sobre a Teia da Vida que irmana todos os seres vivos, e principalmente pensar sobre essa mania besta que nós, Homo sapiens, temos de achar que somos o “umbigo” de tudo, a “última bolachinha do pacotinho”! (a publicar – terminado em 2007)

- “O Vampiro de Branco” – é a história de um iluminado espírito antigo que busca retirar do umbral sua amada, que se perdeu na revolta e tornou-se uma Vampira Astral. Assim, ele assume o disfarce de um Vampiro Astral, mas todo trajado de branco. Enquanto isso há toda uma tensão imensa entre Luz e um Líder do Abismo, onde o Vampiro de Branco terá papel decisivo. Foi meu primeiro romance, ainda um pouco (muito) dentro dos padrões espíritas, escrito quando eu tinha 19 anos... (sofrendo revisão e sofrendo na revisão: obra de juventude é sempre uma encrenca quando um escritor quer resgatar e torná-la madura! (risos)

Destas obras que citou, qual a que mais curtiu?
Ah, sem dúvida: “Sol Negro & Lua Branca”!

Qual foi mais trabalhosa?
De novo: “Sol Negro & Lua Branca”! Imagine só: eu ter que “virar” uma adolescente motoqueira, superdotada, gótica, dark, tipo suicide girl, de 19 anos, contando a história? Que sufoco! (risos)

Qual superou as suas expectativas?
Xi, eu vou começar a ficar repetitivo... (risos)
“Sol Negro & Lua Branca”! Selene é a melhor criação que eu poderia ter sonhado um dia fazer nascer...

Qual reescreveria ou daria continuidade?
Reescreveria “O Vampiro de Branco” e talvez “Reine: a história de uma Bruxa”, pois eu estava muito preso aos parâmetros, às regras de doutrinas naqueles tempos... ouvia muito o “lá fora” mas pouco “o aqui dentro” de mim nessa época. Teriam outra cara na reescrita! Acho ótimo reescrever: você não se prende mais ao seu passado, se liberta dele, pois se percebe numa eterna construção permanente no Agora! Quem vive de passado é o museu e quem vive de futuro é o adivinho!
Continuidade? “Sol Negro & Lua Branca”! Que sejam 7, 10, 13, sei lá quantos livros, até que Selene atinja a sua Iluminação, a sua Conexão, a sua “Orixalização”! (risos!)
A experiência de “viver” Selene me tornou uma pessoa muito melhor perante mim mesmo, e disso eu jamais abriria mão. Será que isso soou meio gay? Ah, e daí!? Dane-se! (risos) Mas vai aí a minha dica para a gurizada, senhores escritores: querem amar de verdade as suas gurias? Escrevam tentando se colocar no lugar delas! Isso cria uma empatia incrível com elas! (sorriso)

Fale sobre a sua personagem favorita e o que há nela para ser a dileta?
Selene, sem dúvida! De longe, a melhor personagem de todas!
Ela começou meio em fusão com “Reine”, mas logo adquiriu sua própria vida... mas desde que nasceu, eu senti que teria problemas com ela, por isso deixei ela “no freezer” congelada um bom tempo até saber lidar com ela...
Ela é tão... complicada! Cheia de nós, manias, ranços, e repleta de detalhes complexos... repleta de imenso conteúdo, dons e enorme valor, mas é inicialmente incapaz de perceber isso em si mesma, de tanto que ouviu o mundo querendo “torcê-la e enfiá-la numa caixinha padronizada” para torná-la mais uma “guria pasteurizada padrão, vestida num ridículo pretinho básico”!
Foi então que nasceu a sua revolta e o seu sarcasmo: a maneira que ela arranjou para resistir a tudo aquilo que a negava até mesmo como “gente”. E admito: acho delicioso o inteligente mau-humor, o jeitão sacana e o ácido sarcasmo dela! (risos)

No que gostaria de transformar “Sol Negro & Lua Branca”?
Realmente, o titio Stan Lee e sua Marvel, e a DC (leia-se: “Batman”) me “hipnotizaram” desde a infância! Sem esquecer a Toei Animation, lógico! (risos)
Já pensou, “Sol Negro & Lua Branca” como uma HQ ou Animação?! Cara, seria simplesmente demais!
Eu adoro cinema... mas convenhamos: ver a Selene, o Álex, a Drika, Leilene, Hélène fazendo companhia ao mundo onde mora a obra de Frank Miller, Todd Mcfarlane e os carinhas da Toei Animation?!
Chega, chega, chega, melhor nem pensar: já deu até tremedeira nas pernas! (risos)

Quais os seus contatos e onde poderíamos adquirir as suas obras?

Contato, no sentido de blog, ainda não tenho... tem todo um talento em ser blogueiro, em construir um Lar Virtual, é um talento que admiro um monte, mas sei que ainda não tenho... reconheço meus limites: que não posso ir além dos meus 220 Volts habituais! (risos)
E-mail: temploorumaye.ale@gmail.com
Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=17257717815176937610
Atualmente minhas obras podem ser adquiridas no site do Clube de Autores, onde estou aos poucos “desengavetando” tudin, tudin! (risos)
site: www.clubedeautores.com.br
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