"Os contos do escritor gaúcho Cesar Soares Farias são de indiscutível riqueza de detalhes, sobretudo aquele que intitula o livro. O Grande Pajé, como poderá observar o leitor, é uma criação grandiosa, que nos remete ao martírio de um Cristo banhado e redesenhado nas tintas da brasilidade. Na sequência, mais outros onze deliciosos contos, estes mais curtos e mais regados de comicidade. Todos levando o leitor a estabelecer uma efêmera relação de cumplicidade com os divertidos e singulares personagens que se sucedem nesse mosaico de "causos" e histórias que podem até ter acontecido com seu vizinho e você não teve tempo ou oportunidade de perceber. Uma questão de olhar. O olhar do narrador reproduz, com sutil singularidade, a caricatura de um Brasil matreiro e policromático, apesar de todas as mazelas."
Prefácio do livro.
Meu Achismo:
O Grande Pajé é uma coletânea
totalmente anárquica e independente, produzida com uma noveleta, que dá o nome
ao livro, e mais onze contos. Com a liberdade criativa que apenas um autor
autopublicado pode dar ao seu trabalho, no livro se encontra desde textos
narrativos mesclados à poesia, até cópia de panfleto, anúncio de jornal e
receita gastronômica!
Há algo de religiosidade,
regionalismo e brasilidade. Os personagens são reais, podendo ser o vizinho que
mora ali na esquina, o pedestre que atravessa a rua lá de cima, a dona que só
anda com aquele carrinho de feira, você mesmo e eu também.
Em todos os textos, Cesar Soares
panfleta sobre as causas que milita: a Cannabis – pelo seu uso livre como qualquer
outra erva – e a exploração animal – desde o consumo da carne e derivados até o
uso para suprir a carência afetiva humana.
Este livro não trás uma simples
leitura de entretenimento, muito pelo contrário. É uma leitura reflexiva, em
que o autor aproveita de uma valiosíssima ferramenta – a Literatura – para
expor suas ideias, seus conceitos e ainda ser o palco em que ele defende
arduamente aquilo que acredita e trabalha para as mudanças acontecerem.
A seguir, comentarei sobre três
contos, sintetizando o espírito da obra.
A noveleta “O Grande Pajé”
reconta uma conhecida história do mundo cristão: o nascimento, a vida e a morte
de Jesus. Neste texto, a história ganha contexto contemporâneo, mas na
concepção de Cesar Soares, o fim é o mesmo, resumidamente: a humanidade
continua a ser traiçoeira e hipócrita, e continua a oprimir e matar os seus
iluminados, quando estes vem mostrar a questão mais básica e simples que
existe, ameaçando o domínio de alguns sobre a massa: que o Poder está em nós.
“Amigo Bicho” tem o mesmo
contexto anterior: mostra como, no final, o ser humano pode ser tanto
traiçoeiro quanto hipócrita. De todos os contos, este foi o que mais me abalou,
por seu final inesperado. Ainda agora, depois de tantos meses que já li o
livro, sinto a dor emocional da pobre galinha que acreditava ser de estimação
tanto quanto a cadelinha da casa, ficando para o leitor a mensagem: “Por que
ama uns e come outros?”
Cesar é de uma admirável coragem
quando prega em seus textos e palestras sobre o Veganismo, estando ele no
estado mais carniceiro do país, o Rio Grande do Sul. Os textos “Aquele Vitelo”,
“Meu Pequeno Tambo” e “O Fígado” aponta escancaradamente para essa questão do
consumo desnecessário de produtos e alimentos de origem animal, condenando
criaturas, com tanto direito à vida como nós, ao holocausto diário que
terminará sempre com uma morte cruel – por mais “humanizada” que os defensores
da indústria pecuária queiram fazer parecer. Tudo isso para o quê? Apenas por
gula: seja a palatável, seja a consumista. Condena-se um ser a uma
subexistência miserável e uma morte dolorosa e cruel por conta de apenas 3
segundos de paladar... E depois ainda querem que Deus alivie a barra quando
essa pesa :/
Em “O Homem da Ganja”, o autor
aponta a hipocrisia, tanto do Estado quanto dos cidadãos, sobre a
criminalização da maconha. Essa questão eu também gostaria de saber: por que a
Cannabis é criminalizada e o cigarro não, mesmo com os seus milhares de
componente venenosos? Por que o usuário é marginalizado e o alcoólatra é
socialmente tolerado? As drogas lícitas não são muito mais letais, inclusive a
terceiros?
Com o livro “O Grande Pajé”, Cesar Soares deu a sua
contribuição para “salvar o planeta”, como é a sua intenção literária
confessada em entrevista. A sua semente plantada virou árvore e deu frutos, e
estes estão disponíveis para todos aqueles que quiserem adquirir. Livro de
entretenimento? Não tão somente. Livro para reflexão, principalmente.
Para adquirir:
ou
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